Com desvelado afeto, Z.A. Feitosa conta, nas 160 páginas que compõem
“Da canga ao cangaço: dias de serra e
sertão”, a história da mocidade dum herói muito particular, inspirando-se
na vida de seu pai, Etelvino A. Feitosa, que completaria 100 anos de nascimento,
oficialmente em 2008, ano em que concluiu a escritura desta obra.
Etelvino, que não recebeu em vida nenhuma insígnia honorífica,
digna de nota, por sua vontade de luta, nem virou nome de praça ou placa de rua,
se tornou um destemido soldado das forças armadas, depois de passar vários anos
a serviço da violência do cangaço que reinava no semiárido cearense, vivendo em
fuga e dormindo no mato para escapar das balas certeiras da polícia.
O livro trata da pequena saga desse sertanejo que no verdor dos anos,
por força duma sina adversa, trocou o trabalho na lavoura canavieira, nos idos
da década de 20, pelas armas e riscos do cangaço. Ao que parece, o destino de
Etelvino firmou à revelia um pacto de sangue com a violência das armas, pois para
escapar das perseguições aos cangaceiros, deflagradas pelas forças volantes, o
protagonista viu-se obrigado a sentar praça no exército.
Assim, a poder das circunstâncias, foi que após anos de
dedicação à crueldade do cangaço, do qual foi refém, encontrou na infantaria do
exército a perfeita identidade para os desejos da alma, lutando nas revoluções
de 1930 e 1932, defendendo com bravura, nas forças armadas, ideais que desconhecia.
O protagonista da obra, a exemplo de Etelvino, também ficou
pouco tempo no exército, porque foi, como muitos, dispensado do serviço
militar, terminado o grande confronto armado ocorrido em terras paulistas. Saído do
quartel, voltou a ser um pacato homem do interior nordestino, mas guardou na
alma o amargor do descaso e declarou, por toda a vida, a honra que sentiu ao formar
fileiras no exército deste belo Brasil.
Entrelaçando fatos históricos e sobretudo memória afetiva, Z.A.
Feitosa teceu uma ficção poética e regionalista, em páginas de rara beleza, que
quase se pode ler de forma independente, através das quais reverenciou a figura
do pai, dos cangaceiros e dos soldados, que no anonimato dos corações de seus
descendentes são cultuados como heróis pelas lembranças de todos os dias.
Só compreenderá a devoção, a custo sofreada, das palavras que narram
de forma singular a história do cangaceiro que virou soldado, quem tiver sentido
um dia o gosto amargoso da saudade. Decerto se deixará envolver pelas emoções,
que tingem esta obra com carinhosos matizes, quem deixa o amor vicejar no
coração, porque este livro fala direto ao sentimento, o que acontece com toda declaração
de amor filial.
(in Da Canga ao Cangaço: dias de serra e sertão, TAL Editora, São Paulo, 2012)
2012 © Z.A. Feitosa, todos os direitos reservados
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