Pessoas Deveras Importantes

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A doce vida de concubina


(in O íntimo ofício: memórias, Scortecci, São Paulo, 2007)


Eis senão que um dia Alvinópolis viu-se convidada a testemunhar uma notória gravidez fora de um casamento. Francisca, adiantada em anos, apaixonou-se por Sizenone, para quem ministrava aulas particulares, uma vez que ele havia sido reprovado por anos seguidos na primeira série ginasial. Sizenone, 12 anos mais novo do que Francisca, além de ser conhecido como o filho de um grande negociante de tecidos do povoado, ficou marcado no local por suas limitações intelectuais.

Ninguém soube como surgiu aquele namoro, o certo é que Francisca acabou num amancebamento com Sizenone, diante da impossibilidade de concretizar de outra maneira essa união que contava com muitas desigualdades. O concubinato, ao contrário do que se pode pensar, era um forte traço cultural na região desde a chegada dos primeiros portugueses e um comportamento muito arraigado em Alvinópolis, ainda que fosse condenado pela igreja, que não aceitava aquele tipo de relação. Não era considerado, todavia, como uma forma legítima de união, sendo apontados como pecadores aqueles que viviam maritalmente sem serem casados.

O estado em que ambos viviam era do conhecimento de todos. Aquela ligação acontecia debaixo dos olhos da mãe e do pai dela, que faziam vistas grossas para o envolvimento amoroso de Francisca com o filho de Penhor, mas apenas se inteiraram de que ela estava prenhe, no dia em que Francisca foi acometida por uma indisposição estomacal. Levada, às pressas, ao Hospital Regional, foi atendida pelo médico de plantão, que não teve dificuldade para diagnosticar o que, aos olhos dos pais dela, parecia ser doença.

- Esse tipo de enjôo acontece com muitas mulheres em estado de gravidez, mas procure um médico para fazer acompanhamento da gestação, pois na sua idade ter filho envolve alguns riscos. (Disse-lhe o médico, na presença de sua mãe, desconhecendo o segredo que envolvia a questão).

O assunto, caindo no ouvido de dona Severina, que nunca soube guardar as conveniências, foi bater no ouvido das beatas, em forma de desabafo. As beatas não perderam tempo. Movidas pelo ressentimento, que despertou com fúria nos corações daquelas desfeiteadas, as beatas saíram de porta em porta espalhando a notícia do acontecido. Contavam, de casa em casa, fazendo questão de frisar que Francisca, uma balzaquiana, depois de andar às voltas com todos os homens do povoado, acabara se deitando com o filho de Penhor de quem ficou prenhe, na expectativa de arrumar um marido e se limpar de seu passado de mulher sem honra, aproveitando-se da leseira do rapaz, pois Sizenone não era o que se costuma chamar de pessoa inteligente.

- Armou-lhe uma arapuca e o brocoió caiu como um passarinho. (Arrematava a beata Tozinha, com sua voz rouca que semelhava o grasnar do pato).


2007/2010 © Z.A. Feitosa, todos os direitos reservados

6 comentários:

  1. Amigo Feitosa, desejo-lhe uma boa semana.

    Abraço


    Norberto

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  2. Feitosa , meu amigo desejo-lhe um bom domingo e uma boa semana.

    Abraço

    Norberto

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  3. Olá Feitosa :)

    Passei para lhe desejar um bom fim de semana e deixar o meu abraço.

    Norberto

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  4. passando por aqui pra desfrutar de seus belíssimos trabalhos querido amigo, um forte abraço.

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  5. He llegado a saludarte, te dejo un abrazo
    Stella

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  6. O seu adorável estilo nos vai envolvendo, pelo menos a mim, e já me sinto lá, espiando a história acontecer.

    Bom poder ler seus escritos.

    Abraços e uma bela semana lhe desejo.

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Z.A. Feitosa (www.feitosa.net)